Agronegócio sob condições adversas e sem regras para o fair play – Por José Luiz Tejon Megido

Foto: Ilustração


Agronegócio no Brasil é uma olimpíada disputada a cada ano. Só que sob condições incertas e adversas, nunca dentro de instalações para alta performance, e com regras que promovam o fair play.

Saiu o PAP – Plano Agrícola e Pecuário: mais cerca de R$ 30 bilhões no crédito agrícola, porém com aumento de juros – esse é o salto do gato. Safra passada tivemos R$ 156,1 bilhões de crédito agrícola. Safra 2015/2016, teremos R$ 187,7 bi. Para o custeio teremos mais crédito, porém a juros controlados, que crescem de 4,5% para 7,5%, e produtores com receita acima de R$ 90 milhões, pagam 9% de juros controlados. Existirão apenas R$ 94,5 bilhões, ou seja, apenas 7,5% a mais em recursos comparado ao ano passado.

O setor reclama que os custos de produção cresceram 15%, e que a inflação será maior do que o montante do recurso oferecido para custeio a juros controlados. No custeio a juros livres, o aumento foi de 130% na disponibilidade, saindo de R$ 23 bi, para R$ 53 bi. Mas juros livres leia-se na faixa de 17% a 23% ao ano.

Para investimentos, o total dos recursos diminuíram 24% comparado ao ano passado, também dentro dos juros controlados. Ou seja, o aumento da oferta de crédito, de verdade, está se dando a juros livres, que poderão variar conforme a instituição financeira, de 17% a 23% ao ano.

Outras preocupações do campo estão no modelo de seguro rural, que apenas inicia neste ano com o SIS RURAL – Sistema Integrado de Informações do Seguro Rural, e a eterna dúvida da chegada dos recursos a tempo hábil na mão dos produtores.

O pessoal do arroz reclama de não consideração dos custos do arroz irrigado, responsável por 90% do arroz consumido no Brasil, que teve consideráveis aumentos de energia elétrica, após a promessa de que o custo da energia ia cair no país.

E o programa da agricultura de baixo carbono, essencial para o posicionamento de sustentabilidade do agronegócio brasileiro, perdeu 1/3 dos recursos na próxima safra, caindo de R$ 4,5 bi, para R$ 3 bi.

Quer dizer, dentro da circunstância dos ajustes econômicos nacionais, há um olhar positivo pelo aumento dos recursos. Porém, considerando o nível da incerteza sempre presente na atividade agropecuária, que não domina preços, tem custos logísticos infernais no país, além de burocracia paralisante, encarecendo e ampliando o risco da atividade, os juros obrigarão cada produtor a ser um atleta olímpico. A consequência é cada vez mais uma seleção forçada, onde apenas os extremamente mais vocacionados e atléticos superam.

Injusto com a grande maioria dos produtores brasileiros, e com a necessidade imperiosa de aumento do empreendedorismo e do cooperativismo no campo. A Olimpíada no Brasil existe todo ano, nos campos da agropecuária.

José Luiz Tejon Megido, conselheiro fiscal do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), dirige o Núcleo de Agronegócio da ESPM e comentarista.

Por José Luiz Tejon Megido

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