Neste primeiro trimestre de 2016 ocorrências envolvendo idênticos litígios espaciais entre a natureza e sua notória prole, os humanos, murcharam cada uma seu impacto na opinião público, provocando reações em vez disso unificadas. As ocasionais cheias fazem parte dos modos como os rios esculpem o viver dos ocupantes das cidades e áreas rurais a suas margens. O tecido das determinações é a cobrança natural para os grupos antrópicos de justuras em seus hábitos e bens ou no regime das águas (quando elas permitem), no que os casos apontariam indisciplina das comunidades ligadas aos cursos d’água e todo o resto do mundo, cujas atitudes podem estar imprimindo marcas nos escoadouros hídricos apesar de esse maior conjunto majoritariamente não usufruir deles.
No norte, oeste e sul do estado (de onde a fusão entre leitos de rios e a terra firme se expandiu a lugares no Paraguai vizinhos à sul-matogrossense Bela Vista, ambos que partilhavam o volume excedente do Apa) o barco tem tido melhor (se não exclusiva) serventia no tráfego sobre as águas que deterioraram por encharcamento ou a força das correntes e infestaram com microorganismos pertences residenciais ou laborais de muitos habitantes e de uso comunitário. Daí procedem o remanejo das pessoas e do tudo que conseguiram livrar das inundações para ambientes protegidos delas, prosseguinte em certos municípios; o impedimento a boa soma da mão-de-obra ativa de exercer os trabalhos com que sustentam as regiões, pelo motivo antes apontado e os danos às fontes econômicas (principal impacto a Ivinhema em virtude de a dito interesse – lazer nos fins de semana – servir a maioria das casas cobertas pela cheia do rio homônimo neste mês); e as baixas na integridade das rodovias e pontes úteis para o transporte de bens econômicos e estudantes (tendo os quais por ensejo de o governo estadual só permitir o retorno das aulas em suas escolas no último dia de fevereiro, servindo pouco o tempo extra para significantes reparos nas pistas).
Pontos a nível do Pantanal, território colaborador para a fama internacional do Mato Grosso e nós Do Sul, devem o equilíbrio nas interações entre seus componentes vivos e inanimados que mantém o conjunto desde os tempos mais remotos às cheias. Com as naturais e bem definidas inundações nos tempos chuvosos, rotuladoras do enorme terreno como maior planície alagável do mundo, o território ganha forma de um belo mar sem limites e seu solo, fertilidade, devido aos fluxos de matéria orgânica. Os instantes em que os corredores d’água vão além de si fazem alguns traços típicos da cultura humana da região convocando os trabalhadores rurais a se dirigirem para terras seguras com seus bens pessoais e de labuta (em quantidade relativamente modesta se comparados aos do povo urbano).
Não tendo a ver com o ciclo hidrológico pantaneiro de cheia e vazante, não é raro que os leitos aquáticos estendam-se pelas cidades ribeirinhas já citadas e tantas outras no país e fora (está o exemplo nas enchentes compartilhadas entre o sudoeste de MS e o departamento paraguaio de Amambay, de onde saem queixas contra a postura do governo nacional com esses momentos de emergência). Basta ter uma chuva mais intensa para dar um nó na rotina de muitos indivíduos, não bastando o quão é complexa e inflexível em sua essência, e, pior, de alguns ceifar a vida em casos rotineiros do naipe das chuvas que neste mês provocaram enchentes e deslizamentos de terra em São Paulo e arredores do gigante urbano.
A familiar frequência e a repetição de características emparelham o comportamento do clima nas cidades e sua influência humana, recapitulada pelo meteorologista do Climatempo Alexandre Nascimento em entrevista ao Jornal de Jundiaí, do interior paulista. Os fenômenos pegaram o costume de se processar com inconveniências porque, nesses ambientes muito hostis onde marcam presença o asfalto, o concreto, as ocupações residenciais irregulares e os vários tipos de poluição, adquirem a serventia como armas na batalha da natureza vislumbrando recuperar partes tomadas, como se vê, sem escrúpulos por seus mais “inteligentes” filhos.
Determinados aspectos das perturbações climáticas urbanas e globais (efeito estufa), em parte causadoras das primeiras, são incuráveis. Cabe exemplificar o calçamento, a pavimentação (os solos viáveis para as mais modernas atividades humanas) e a congênita proximidade entre muitas cidades e rios (por terem surgido em tempos distantes da invenção ou aperfeiçoamento de sistemas para a coleta de água à distância). Porém, não faltam, motivo pelo qual são sempre cobradas, alternativas para universalizar entre as camadas sociais o direito a casas e estabelecimentos de trabalho longe de áreas de risco (encostas e cumes de morros e margens de rios, lagos e córregos) e fortalecer o controle do descarte de resíduos, o que é possível de começar por nós. Já temos o suficiente para entendermos as lições que o meio ambiente nos dá com seus revides â pouca seriedade com que o tratamos.
*Victor Teixeira é articulista, natural de Dourados e residente em Itaporã-MS e através de seu blog, busca conhecer variadas realidades regionais, nacionais e estrangeiras pelo que a imprensa das próprias áreas noticia.