Auditores da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Mato Grosso do Sul (SRTE/MS) estiveram na manhã desta segunda-feira (31) no curtume onde dois funcionários morreram em um acidente na manhã de domingo (30). Eles constataram falta de diversas condições de trabalho.
Foi verificada a falta de equipamentos de proteção individual e coletiva, exaustor para conter o ar contaminado e permissão de entrada de trabalho. “Teria que haver um supervisor que vigiasse a atividade desses trabalhadores”, disse o superintendente regional do Trabalho, Yves Drosghic, à TV Morena.
Após o trabalho dos auditores, alguns equipamentos do curtume poderão ser interditados. O superintendente nega que o órgão tenha falhado nas fiscalizações, que poderiam ter evitado o acidente.
“Temos um deficit muito grande de auditores. São 40 auditores para o estado todo, e trabalhamos através de denúncias. O que aconteceu aqui é a falta de treinamento e qualificação dessa equipe [que limpava um tanque]”, ressaltou. A SRTE vai convocar o Ministério Público do Trabalho do estado (MPT-MS) para propor uma ação civil pública contra o curtume e outros estabelecimentos. A auditoria continua durante a tarde desta segunda-feira.
Velório
O corpo de Leandro Cesário, de 32 anos, um dos mortos no acidente, foi velado nesta manhã no Centro Comunitário do Jardim Sayonara, bairro onde morava. A mãe pede por justiça. “Eu quero justiça pelo meu filho”, afirmou emocionada Dila Maria Ribeiro Cesário. A irmã da vítima, Kátia Uberto Silva, disse que Leandro sempre cuidou da mãe. “Ele cuidava da minha mãe, nunca saiu da casa da mãe. Ele criava um sobrinho de 3 anos praticamente como filho”, contou.
O corpo da outra vítima do acidente foi levado para Rio Brilhante, cidade distante 150 quilômetros de Campo Grande, onde será enterrado. As outras duas vítimas internadas na Santa Casa, uma delas em estado gravíssimo.
Acidente
Dois homens, de 32 e 38 anos, morreram em um acidente de trabalho em um curtume no Núcleo Industrial de Campo Grande na manhã de domingo. Os dois eram funcionários da empresa.
Em nota, a Qually Peles lamentou as mortes do motorista do caminhão-pipa e do operador de estação de tratamento de água e diz que está prestando suporte às famílias. A empresa ressaltou que ainda não tem detalhes sobre as circunstâncias do acidente e que o local passará por perícia.
Segundo o Corpo de Bombeiros, o acidente ocorreu quando dois funcionários estavam limpando um tanque do curtume, um procedimento de rotina que é executado a cada 15 dias, quando uma substância tóxica foi liberada. Os dois funcionários começaram a se debater dentro do tanque e outros dois colaboradores que estavam no local entraram no tanque para socorrê-los e também se intoxicaram.
Dos dois que limpavam o tanque um morreu e outro ficou ferido, assim como dos outros dois funcionários que entraram na estrutura para socorrer os colegas, um morreu e outro ficou ferido.
Interdição
Na tarde de domingo, o Corpo de Bombeiros interditou por falta do certificado de vistoria o curtume da empresa Qually Peles. A empresa informou que já deu início às apurações sobre as causas do acidente, mas adiantou que trabalhava dentro das normas exigidas pelas legislações vigentes e com as licenças necessárias.
A corporação informou ainda que há a suspeita de que os dois funcionários podem ter sido intoxicados. Haveria restos de cloro, amônia e enxofre dentro do tanque onde os trabalhadores faziam a limpeza.
Um dos funcionários teria jogado água nas paredes internas do tanque e as substâncias, em contato com a água, geraram ácido sulfídrico, substância extremamente corrosiva e tóxica.
Fonte: G1 MS com informações da TV Morena