De cor e salteado já conhecíamos a dengue, obra do Flavivírus e as complicações a que leva muitos pacientes, chegando à morte em inúmeros casos. Há pouco tempo se fala na febre chikungunya, causada pelo vírus CHIKV, pouco letal, mas podendo induzir crônicos transtornos em órgãos como as articulações. Isso ainda não elevava o valor da luta contra o Aedes aegypti. Descobrindo-se, além de tais enfermidades, a serventia do inseto no transporte e descarga do vírus Zika, responsável por uma doença do mesmo nome e por distúrbios neurológicos, entre eles o que perfila irreversivelmente a vida de quem ele invade antes de nascer, não há como fugir à obrigatoriedade de trabalho mais rude visando debelar o pequeno animal. O duro é a decolagem dessa necessária consciência permanecer com velocidade estável.
Porque a nova e mais terrível concreta ameaça encontrou efetiva fonte de progresso no superávit habitacional que seria bem-vindo caso alvejasse a cifra populacional carente de moradia sob sua propriedade e atendendo aos critérios de bem-estar e segurança. Momento pródigo vive o mosquito não apenas da dengue com o setor imobiliário, em versão gratuita, para ele voltado muito intensamente graças aos materiais abandonados ao livre acesso das chuvas.
Nossa capital estadual já hospeda compulsoriamente em boa parte dos anos a dengue e há fresco tempo também a chikungunya. Agora começa a experiência cujo prognóstico é mais inquietante em virtude da terceira irmã que se une às disfunções por causa do ambiente muito favorável a seu desenvolvimento. Terrenos ocupados por pneus, embalagens, carcaças veiculares e congêneres dispostos com frequência e imóveis com piscinas para as quais os responsáveis só olham nos instantes lúdicos oferecem estadia vip aos vetores. Em Cuiabá, no estado de que já fizemos parte, ou ainda fazemos, conforme as mentes de fora pouco letradas insistentes na confusão entre os nomes dos lugares, os mosquitos legitimamente se apossaram da outrora Creche Municipal Embrião José Nicolau Pinto, hoje prédio abandonado, que o governo não quis mais, de análoga maneira à estação tratadora de água e esgoto no bairro Matinha, em Belém do Pará. A pequena paulista Fartura regulou seu nome à ocasião atual dando isso ao Aedes, explicação para os mais de 150 adoecimentos por dengue catalogados este ano, contra míseros dois em 2014. Esses casos constituem pequenas migalhas de um todo fácil de montar por suas peças serem bem inerentes a nosso cotidiano, em qualquer lugar para que se vá nessa imensa pátria e grande parte do estrangeiro.
Imergindo ao público de surtos no Nordeste – questão indevidamente aproveitada para disseminar repúdio à região, citando a microcefalia e fatores sem vínculo com o distúrbio, como a incidência de drogas, criminalidade, apego ao Bolsa Família e seu provedor, o PT – após acreditável chegada durante a Copa, o vírus Zika descende para o Sudeste e sugere já ter colocado suas bagagens no solo sul-mato-grossense. Àqueles que não deslocaram para frente sua compreensibilidade em relação ao efeito da forma como se livram do que não mais lhes serve ou deixam seus bens imobiliários quando não os ocupam cabe, não restando mais dúvidas e exceções, tratamento penal por efeito da concepção de uma arma biológica de comprovada valia na derrota a terroristas em ambientes de guerra absoluta segundo o que vem proporcionando a civis de um país cujos conflitos sociopolíticos podem se findar suficientemente por meios mais leves.
Uma adolescente de Benevides, no Pará, inaugurou em outubro as estatísticas mortuárias intrínsecas à doença que tem o mesmo nome de seu patógeno causador, sucedida por, no mês seguinte, um maranhense de São Luís e um bebê cearense em cujos exames foi constatada a relação entre o mal e a microcefalia, nascimento com cérebro menor que as medidas compatíveis. Circundam majoritariamente esse transtorno as inquietudes quanto à origem das quais presume-se motivo na insuficiência das forças impostas para caírem as barreiras a uma vida mais próxima do normal desejada pelos portadores de deficiências. A microcefalia impõe ao paciente a sentença de uma vida limitada, o quanto se empenharem os serviços médicos, o que é possível em instantes recentes ao nascimento com cirurgia tentando amenizar os desafios, tendo sido esse o caso de Ana Carolina Cáceres, uma jornalista aqui do estado mesmo (conheçam sua história e seu blog). À enfermidade congênita se atrela o temor de baixa na qualidade de vida de muitas pessoas viventes neste mundo há tempos caso contraírem a Síndrome de Giuliain-Barré, que deteriora os nervos motores. Tudo obra de um vírus para o embate com o atual o conhecimento e secundariamente as estratégias estão muito delgados, problema em cujo alívio se alistou o departamento de virologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Varrendo todo arquivo físico e mental que armazena os feitos de nossa sociedade ao se consumarem, nos conscientizamos de que esta nova preocupação na saúde coletiva é justamente definida pelo adjetivo, não se encarcerando em seu território de abrangência. Continuar apoiando a procriação de um mosquito que já nos trazia dor de cabeça e muitos outros problemas e teve sua periculosidade elevada com o descaso dos órgãos governamentais na vigilância da entrada de estrangeiros durante grande evento por não terem o instinto curioso forte o suficiente para se atualizar quanto às moléstias que castigam os diversos pedaços do mundo não é um fenômeno alienígena numa pátria com tanta flexibilidade legal para anistiar qualquer tipo de criminoso, não importando o quão sórdido fora o ato pelo qual era responsabilizado. Há de ser transcorrida rumo ao conserto moral uma via com tamanho a perder de vista!
*Victor Teixeira é articulista, natural de Dourados e residente em Itaporã-MS e através de seu blog, busca conhecer variadas realidades regionais, nacionais e estrangeiras pelo que a imprensa das próprias áreas noticia.