Dose de amor – Por Hiroshi Uyeda


Afirmou Carlos Drummond de Andrade: ¨a cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade¨. 

Iluminado pelo poder da síntese, o grande escritor brasileiro expressa em poucas palavras a razão de viver. Quantos padecem de crises existenciais? Uma multidão. Nascem, crescem e morrem sem sentir o gosto da felicidade.

Nas cidades grandes, tudo acontece simultaneamente. Há quem esteja nascendo, namorando, casando, viajando, dormindo, acordando ou sendo velado. Fazem parte de estatísticas e pouco tempo depois os fatos são esquecidos. Escudam-se atrás do eufemismo de atribuir ao esquecimento a memória curta.

Nas pequenas cidades, onde todos se conhecem, qualquer ocorrência toma vulto. Há solidariedade humana e as preocupações são compartilhadas. Possivelmente, a soma das vantagens em confronto com as desvantagens, faz pender o fiel da balança favoravelmente à decisão de viver em cidades pequenas e médias por tais motivos.

Em momentos felizes é fácil compartilhar. Por esse motivo, em Bela Vista as festas adquiriam maior brilho na década de 60, época do verdadeiro romantismo. Até o 1º de abril, dia da mentira, motivava concentração na Praça Álvaro Mascarenhas. Imagine um churrasco patrocinado pelo Dr. Ely, as campanhas políticas do Walter Escobar, as festas na casa do Dax, os bingos no Pedro Rufino.

Nos momentos de dor e de sofrimento, os mais difíceis, faziam e ainda fazem da população bela-vistense uma só família. A comoção era indisfarçável e ainda a é. Amigos e familiares distantes, onde estiverem, no imenso espaço brasileiro, mas com raízes matriciais em Bela Vista, compartilham da mesma dor da separação, da última despedida.

Não há palavras de consolo para quem perde entes amados. Há um vazio imensurável. É necessário reunir forças e respaldar-se nos ensinamentos Divinos. Nesse esforço, todos sabem da enorme necessidade de se unirem em um só pensamento. Um dia todos necessitarão também dessa dose de amor. 

O tempo passa, a vida continua mas o luto permanece na alma de quem se viu alijado de não mais poder compartilhar momentos felizes em companhia de pessoas tão especiais. 

Por Hiroshi Uyeda

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