Os velhinhos de hoje não se lembram mais quais foram seus brinquedos favoritos na infância. Nebulosamente a imagem de um carrinho feito com lata de sardinhas e puxado com barbante povoa o pensamento. Em outro quadro, já então de calças curtas, pneus, frutos de mamoneiros, estilingues, tábuas de bete, papagaios de papel, carrinhos de rolimã formam imagens mais nítidas. Bons tempos, não voltam mais. Todos tiveram infância.
Na adolescência, contraditórios sentimentos se despertaram. Período difícil. Tudo é colocado para os jovens resolverem a um só tempo: carreira, vocações, independência, liberdade, sexo, criar asas. Viagens em pensamentos mil, conquistas, sucesso e namoros, romanticamente emoldurados, sem tóxicos.
Chegaram a fase adulta. Descortinaram-se as realidades da vida. Estudos, formaturas, responsabilidades, direitos e obrigações. Objetivos, casamento, filhos, pão de cada dia, família, férias. Sem as facilidades de hoje: internet, ce-lular, Enem, sistemas de quotas. A duras penas todas as etapas foram venci-das.
Cabelos brancos cobrem-lhes as cabeças. Reconhecem a fragilidade constitu-tiva do exercício de sua cidadania, exposta senão em movimentos imediata-mente abafados, em 64 e em 92, quando o Brasil experimentou o regime militar e o primeiro caso de impeachment presidencial. Momentos de reflexões. No primeiro episódio nem lemes foram. No último quiseram ser bússolas, acreditando-se legitimados como defensores de causas. Contribuíram realmente.
No atual momento estão novamente nas ruas, manifestando suas contrariedades. Sentem-se porta vozes, arautos de algum ideal, vencedores dos embates anteriores. Às vezes é bom. Desperta nos mais jovens a exemplaridade. Porém há abismos de diferenças. Nem sempre a neve da cabeça ou acentuada careca revelam correção. Há jovens de comportados cabelos e em impecáveis trajes a darem aulas de civismo, patriotismo e acertos em suas decisões, muito mais conscientes que os seus avôs e com poderes para tal.
Há um alento de esperança por uma Pátria melhor. Estes jovens também trilharão caminhos e alcançarão a puberdade da velhice – sentimento presente nos velhinhos de hoje – com melhor e mais esmerado preparo.
Por Hiroshi Uyeda