Esse grito nada tem a ver com os emitidos nos Carnavais na Avenida Marquês de Sapucay, no Rio de Janeiro, pelos puxadores de sambas enredo, no início dos desfiles das escolas de samba.
Para todos os animados bailarinos dos memoráveis bailes no Clube Belavistense ou no Grêmio Pedro Rufino, na década de 60, os gritos de Sapucay eram emitidos nos primeiros acordes de um chamamé, como convite às pessoas para participarem da dança, chegando a ser surpreendente a força desse grito para arregimentar os pares.
Suas origens se associam à formação cultural dos sul-mato-grossenses e à diversidade das tradições trazidas pelos migrantes e imigrantes, dando características peculiares às manifestações artísticas. Segundo alguns historiadores, o costume de emitir o grito vem do Paraguai, cujo significado remonta à lingua guarani e significa grito. Bastam os acordes das primeiras notas musicais de uma polca paraguaia ou de um chamamé para os gritos serem puxados e entoados em todos os cantos do salão.
Há outras origens, como de sua utilização na lida do gado pelos campesinos e, também, quando os índios guaranis partiam para as batalhas, usando-o também nas comemorações e até nos momentos de tristeza.
Muitos historiadores remetem a origem ao hábito de seu uso por um gaúcho chamado Sapucay. Vivia na barranca do rio Uruguai e realizava bailes em sua casa para desviar a atenção da fiscalização e, assim, seus comandados faziam contrabandos. Os gritos por ele emitidos serviam de sinais para seus asseclas. Esse episódio consta do filme ¨Ecos do Sapucay¨, dirigido pelo cineasta Anderson Farias.
Independentemente das origens, os bela-vistenses o utilizavam à larga nos bailes da cidade na romântica década dos anos 60. Era comum ouvi-lo nas vozes dos jovens Glaucy Flores, Robson Peeico, Geraldão Nunes e dos maduros e eufóricos Waldemar Garcia e o Natalício Vieira, este mais recatadamente.
Boleros e sambas se rivalizavam às polcas paraguaias em quantidade de pares no salão. Não se podia negar a oportunidade de os jovens se aproximarem das lindas bela-vistenses Ana Maria, Cotinha Escobar, Etelka Lageano, Jane Lino, Leda Loureiro, Lenira Miranda, Marilda Flores, Mary e Neuzinha Vieira, Terezita Urbieta, Zilca Nunes, Marilda Escobar e tantas outras, ao som de La Barca, Solamente Una Vez, Perfídia, Besame Mucho e dos sambas Saudosa Maloca, Trem das Onze, Ronda e A Voz do Morro. Por sinal, como dizia Dorival Caymmi, quem não gosta de samba bom sujeito não é, ou é ruim da cabeça ou doente do pé.
Porém, a polca paraguaia sempre sobrepujou. A disputa por espaços no salão por respeitáveis cidadãos de cabelos já tomados pela neve era algo impressionante. Todos procuravam esbanjar seus dotes de exímios dançantes. Era uma alegria só ao som de Pajaro Campana, Recuerdos de Ypacarai, Mercedita e Galopera.
Ao contratar as orquestras, bandas e conjuntos musicais, a única exigência contratual era se haveria maior espaço dedicado à polca paraguaia, aos boleros e ao samba, nessa ordem.
Ainda ressoam nos ouvidos dos românticos da época, com saudade, os inolvidáveis gritos de sapucay.
Por Hiroshi Uyeda