Leitura de contexto de uma época remota – Parte II – Por Hiroshi Uyeda


Saiu para apreciar o movimento na praça em frente ao hotel. Em plano oblíquo de onde se encontrava, avistou um aglomerado de pessoas do outro lado da praça e resolveu ir até lá, passando por pequeno coreto, no centro. O nome do bar sugeria ser de simpatizante com as tendências musicais da época. Denominava-se Bar Bossa Nova. Ao lado, um prédio térreo ostentava a denominação na parte superior das 3 portas, Cine São José. No promontório um alto falante anunciava os eventos do dia e a programação cinematográfica. 

Entre os dois prédios uma larga passagem interna. O bar, composto por uma só área, tinha um longo balcão no sentido longitudinal, da entrada aos fundos, na lateral esquerda de quem entra. Parte do balcão era ocupada por revistas da época, gibis, balas e chicletes. Na parede, prateleiras com bebidas e cigarros. Mesas e cadeiras de madeira compunham a parte central. Três portas de madeira davam acesso ao bar.

Sua presença foi, evidentemente, notada por todos. Um pequeno grupo de rapazes veio ao seu encontro. Cumprimentaram-se e se apresentaram, Genil Assis, Eimei Ohio e Haroldo Medeiros. Eram funcionários da agência local do Banco do Brasil. Apressaram-se em ocupar uma mesa no interior do bar e conversaram animadamente. Tomaram Crush. Acertaram a mudança para a república instalada em uma casa de esquina, em frente à praça, para a manhã seguinte, domingo. Lá um aposento fora-lhe reservado.

Passaram a falar sobre a cidade. Todos foram unânimes em afirmar ser muito bom morar lá. A cidade tinha limitações, mas eram compensadas pela natural e sincera hospitalidade do povo. Podia-se fazer um bom pé de meia, pois não tinha muitas opções de entretenimento, lojas de grife e restaurantes caros. Os entretenimentos ficavam por conta de bailes nos dois clubes do lado brasileiro e um em Bella Vista do Norte, no Paraguai. A praia no Rio Apa era o principal referencial para diversão sadia, frequentada por todas as famílias. O povo era alegre por natureza e apreciava hábitos paraguaios e gaúchos, não podendo faltar tereré, polca paraguaia e churrasco. O maior provedor de empregos era o 10º R.C. Um breve sumário foi-lhe passado para complementar a sua leitura de contexto. Ficou satisfeito.

Foi difícil conciliar o sono. Muitas emoções de uma só vez. Pernilongos, em profusão, incomodaram-no a noite inteira. Cobriu-se com o fino lençol, apesar do calor e reconciliou merecido sono. Estava próximo do dia da tão esperada posse na agência.

– continua na próxima semana –

Por Hiroshi Uyeda

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