Os telegramas entregues pelo Correio aos seus destinatários, percorriam tortuosos caminhos antes de chegarem em Bela Vista, no início da década de 60. O sistema telegráfico nem sempre funcionava a contento e a alternativa era incumbir as empresas de ônibus, em Campo Grande e Aquidauana de levá-los. Somente no dia seguinte à chegada dos ônibus eram, finalmente, entregues, após três dias de sua emissão.
Cheques depositados em outras praças demandavam uma semana para serem compensados. Tudo era operado fisicamente, isto é, os cheques deveriam chegar em Bela Vista, transportados em malotes dos bancos, nos mesmos citados ônibus.
Pequenos exemplos para mensurar o quilate da paciência. Mas ninguém reclamava. Era assim e ponto final.
Hoje, com raríssimas exceções, quaisquer atrasos ensejam irritação, e aborrecimento. A causa, na maioria dos casos, é atribuída à falha no sistema. Coitado, sempre leva a culpa. Fora do ar, sem comunicação com satélites, internet fraca são motivos para paralisar tudo. Nessa mesma linha de pesadelo seguem os defeitos, a falta de manutenção de equipamentos médicos, a falta de remédios e os problemas de logística no trânsito, nas repartições públicas e, acreditem, nos cemitérios. O impaciente, nem sempre o paciente, está sempre com pressa e qualquer espera motiva reclamações, às vezes, violentamente desmedidas.
O mundo mudou. Todos vivem apressados, cercados de compromissos e horários rígidos. Dorme-se pouco, corre-se muito, cansa-se muito. Deixaram de ser artesões de seu tempo, sem mais esmerar nos detalhes, comprometendo a qualidade de suas vidas.
Difícil é acreditar, antigamente, olhando a comida no prato, fosse fruto de muito e paciencioso trabalho. As sementes colhidas em outros estados, transportadas em carros de boi, eram plantadas em solos cuidadosamente preparados com arados de tração animal e esperavam o bom humor de São Pedro para regá-las com chuvas nos momentos certos. Ainda um longo caminho seria percorrido até se transformarem no arroz e feijão de cada dia.
A paciência faz parte do cotidiano. Quase tudo é possível de ser postergado. Deixe a chuva passar ou o sol esfriar um pouco, dizem os mais experientes, pois a vida, em qualquer época e lugar, sempre foi feita de espera. Tudo a seu tempo: os anos, os dias, as noites, as estações do ano, a gestação, a semente transformada em flor.
Saber esperar é sinônimo de saber viver. Não se trata de ode à nostalgia. Simplesmente, o passado foi diferente, mas não necessariamente melhor. Significa, apenas, nos tempos atuais, a alternativa de vivenciar a expectativa, a espera, de outra forma, um pouco mais inteligente, cada qual com a sua dose de paciência, até mesmo no trânsito urbano.
Por Hiroshi Uyeda