Indígenas das aldeias Bororó e Jaguapiru, se uniram em busca de policiamento permanente para fazer a segurança das comunidades. Aproximadamente 200 pessoas realizaram na manhã desta quarta-feira (09) um protesto que resultou no bloqueio da MS–156, rodovia que liga Dourados a Itaporã por duas horas. Munidos com cartazes, carro de som, cocar e pintados, os lideres expuseram as dificuldades que enfrentam por conta da falta de segurança dentro das aldeias.
De acordo com o capitão Silvio de Leão, a manifestação é a única maneira que eles têm para reivindicar as autoridades melhorias para a comunidade, pois a falta de policiamento está aumentando a violência dentro das aldeias. Caso não sejam atendidos durante a semana eles ameaçaram trancar novamente a rodovia na próxima segunda-feira (14).
“Nós queremos um policiamento permanente, com um posto policial 24h, dentro das aldeias. Há mais de um mês que a Força Nacional, não realiza rondas e policiamento aqui. Temos muitas dificuldades, pois não temos a autoridade de prender quem comete crimes, apenas seguramos e depois entregamos para a polícia, mas isso se torna perigoso para nós também. Hoje é um aviso de que buscamos mais segurança para nossa comunidade e que caso não sejamos atendidos, vamos trancar na segunda-feira (14) de uma vez e ninguém passa”, desabafou Silvio.
O líder da aldeia Bororó, Gaudêncio Benites, conta que o consumo de bebidas alcoólicas e também de drogas, acabam gerando e aumento os casos de violência dentro das comunidades. Atualmente a ‘segurança’ no local é feita pelos próprios indígenas que atuam na liderança e também no conselho.
“Estamos vivendo um momento complicado, antes com a presença da Força Nacional em que trabalhávamos juntos, estava dando certo, mas sem eles estamos tendo muitas dificuldades. Quando acionamos a polícia por meio do 190, cai em Itaporã, mas sempre temos que trazer a pessoa que cometeu o crime aqui na rotatória, pois a força policial não entra na aldeia. É difícil, pois não somos policiais e acaba sendo perigoso para nós, pois muita das vezes a família se revolta contra nós em entregar o autor do crime para a polícia”, conta Gaudêncio.
Os líderes também criticaram a ‘Operação Tekohá II’ realizado na semana passada nas aldeias com o objetivo de combate ao tráfico de drogas no local. Para eles a ação não resolve os problemas enfrentado, pois o que deve ser feito é um trabalho de prevenção.
Outro ponto levantado pelo líder da Bororó é que até o ano 2000, as lideranças tinham um poder de atuação em relação a resolver os problemas e até mesmo crimes cometidos dentro da aldeia, porém segundo ele, foi tirado dando apenas a força policial e a Justiça.
“Antes poderíamos resolver entre nós, as pessoas que realizavam os delitos pagavam com serviços comunitários, hoje isso já não é mais feito. Poderia voltar para nós esse poder, ajudaria muito”, explicou Gaudêncio.
Em julho deste ano, durante reunião com representantes do governo do Estado, lideranças locais e de outras cidades debateram junto às autoridades os problemas de segurança nas aldeia.
O secretário-adjunto da Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública) de Mato Grosso do Sul, Helton Fonseca Bernardes, disse na época que os problemas enfrentados por eles são os mesmos das cidades do Estado, e remeteu ao governo federal a responsabilidade em investir nesses locais, relembre aqui.
“Vocês podem ter certeza que os problemas enfrentados aqui são os mesmos de quem mora nas cidades. A Força Nacional, criada pelo governo federal e que deveria estar aqui, já não está. O que era de responsabilidade deles [governo federal], coube a nós tratar. Além da falta de investimento na segurança, também não há nas escolas, saúde e tantos outros”, relatou em 23 de julho.
Conforme Bernardes, a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul recebeu várias viaturas recentemente e algumas delas – não detalhou a quantidade – serão destacadas para o patrulhamento comunitário nas aldeias de Dourados e Caarapó, porém, ainda não sabe quando poderá coloca-las em funcionamento.
“Estamos com motos e viaturas que serão destinadas para o policiamento comunitário, com algumas enviadas para Dourados e Caarapó, porém, elas estão paradas na Sejusp a espera de alguém do governo federal ‘cortar a fita’. Enquanto isso, os problemas continuam”, contou.
Fonte: Joandra Alves – Dourados News