Praia do Pompílho – Por Hiroshi Uyeda


Por sua imensa extensão territorial, o Brasil continente abriga regiões com climas diversificados. Em algumas, extremamente quentes.

Em Corumbá, o cafezinho nos bares é antecedido por um copo de água gelada. Em Cuiabá, era muito comum abandonar a cama e dormir no chão de cerâmica do quarto. Diferenças são observadas quanto ao clima, nos dias de hoje. Cada vez mais quente.

Mas nos anos 60 a população não contava com os confortos atuais. Em Bela Vista a população fazia uma pausa em sua rotina diária após o almoço. O calor no verão era, simplesmente, abrasador. Os estabelecimentos comerciais procuraram oferecer aos clientes o possível para amenizá-lo. Ventiladores em profusão, água gelada e até tereré. Ar condicionado, nem pensar. Nem os veículos o tinham. 

Em ambientes, como os de agências bancárias, Igreja Matriz de Santo Afonso e clubes sociais, quando ocupados, todas as janelas permaneciam escancaradas, mesmo à noite. Dificilmente, todavia, evitava o suor. Banhos diários, pelo menos três, não bastavam. 

Há sobejas razões de a população desfrutar da Praia do Pompílho no Rio Apa, um dos patrimônios naturais cuja preservação deve ser mantida. Não por saudosismo, porém por necessidade. Utilizá-la resultou em predicados imateriais, como as amizades estabelecidas, muitas das quais cristalizadas em casamentos. Resulta agora, também, em manter vivas as lembranças de várias gerações. Passageiros passantes perpetuaram nas retinas os momentos de descontração e os têm inalterados nas narrativas perante sua família, seus filhos e netos, com imensa vontade de lá retornar.

Nela todas as famílias bela-vistenses, de ambos os lados da fronteira, se encontravam. Desde então os laços de amizade transformaram em elos de irmandade, deixando para lá possíveis resquícios de lutas fratricidas entre os dois povos. Espalhadas pelo mundo gerações de famílias detêm e exibem, orgulhosamente, sotaques, culinária, tradições, usos e costumes, suas origens paraguaias e brasileiras. É comum reencontrá-los nas grandes cidades, no Paraguai ou no Brasil, em confraternizações coletivas e revivem os inesquecíveis momentos desfrutados na Praia do Pompílho. 

Nela os moços de outrora, hoje respeitáveis vovôs e vovós, alguns dos quais nos andares superiores, transformavam-se em travessos moleques, esbanjando saúde, alegria e felicidade. Pequenos espaços viravam quadras de esporte; sombras das árvores eram disputadas pelas famílias para realizarem pic-nics; áreas na areia sob o sol serviam para o deleite das mocinhas estiradas sobre toalhas para se bronzearem; muitos aproveitavam a correnteza do rio, logo abaixo, sentados sobre as pedras arredondadas e com a metade do corpo submerso. Uma mini Copacabana em estilo rústico, onde todos se conheciam.

As estórias, os acontecimentos eram relembrados na volta aos lares e serviam de estímulo para reencontros no dia seguinte ou, no máximo, até o próximo final de semana. Tudo poderia acontecer, mas ir à Praia do Pompílho era um programa imperdível. Nem mesmo os Padres Redentoristas, na maioria americanos, furtavam-se de ir. 

Por Hiroshi Uyeda

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