Acostumados a elaborar bem detalhados projetos de vida, os jovens brasileiros da década de 60 cresceram sob o signo do desenvolvimento, do progresso, da confiança, até a década de 90. Resistiram às intempéries, principalmente às produzidas por governantes terrenos.
Especialmente aqui no Brasil a cronologia dos acontecimentos políticos surge nas telas mentais desde a inauguração de Brasília, a renúncia de Jânio Quadros, a adoção do Parlamentarismo, o restabelecimento do Presidencialismo, o militarismo no Poder, Constituição de 1967, AI-5, acidente trágico de JK, extinção do AI-5, Lei da Anistia, eleições livres em 1982, Diretas Já, eleição de um civil à Presidência, sua morte e posse do Vice, nova Constituição. A partir de 90, os cenários predominantes são preenchidos por escândalos: dos Anões do Congresso, do Sivan, da Encol, do Propinoduto, do Banco Santos, do Mensalão, do Petrolão, Operações Lava Jato, Zelotes, Pixuleco e Carbono 14.
Dificilmente os brasileiros setentões encontram espaços sequer para desenharem novos projetos diante de tamanhas incertezas. Nem mesmo os mais experientes e eméritos consultores. Esboços de projetos são sumariamente arquivados em pastas interrogativas. Outrora, bem elaborados, com diagnósticos, apuração de variáveis, riscos e oportunidades, planos de ação, metas e objetivos são hoje substituídos pelos de curtíssimo prazo, com títulos irônicos como matar um leão por dia, economizar o almoço para jantar, sortear pagamentos a credores, todos destituídos de programações para lazer, entretenimentos, viagens, investimentos, casamentos e, até de reuniões festivas familiares.
Se aos velhinhos, consolidados, e com os pés na cova, causam apreensões, são perfeitamente compreensíveis as preocupações dos iniciantes, no limiar da vida, com sonhos e projetos nati mortos. Palavras mágicas soam como únicas alternativas: solidariedade e ajuda mútua. Com convivência de conflitos, desigualdades, conciliação e aceitação das partes. É extremamente fácil repetir o slogan: nas crises surgem oportunidades criativas. Será uma verdade aplicável a quem, de parcos salários-mínimos, contas em atraso, acorda cedo, nas sombras da madrugada, enfrenta filas, usa ônibus, trabalha e só retorna ao lar após o Jornal Nacional?
Serão essas as únicas heranças dos construtores desta Nação, orgulhosos de sua brasilidade e de seus princípios aos seus herdeiros? Ou todos passarão pela retrógrada repetição da Década Perdida, de 80? Globalização, Aldeia Global, McLulan serão reeditados, mas como os honestos poderão solucionar problemas pessoais e imediatos de insolvência, diante da estagnação econômica, desemprego e perda diária do poder de compra?
Amigos dos Anos Dourados em Bela Vista poderão se relembrar de como facilmente eram resolvidos e ultrapassados problemas financeiros decorrentes exclusivamente de suas decisões pessoais, por vezes equivocadas. Mas, não se encontravam atrelados a crises econômicas, de cujas ingerências, no atual momento, não participam. Outros, os eleitos democraticamente, usam e abusam do poder de decisão, mas quem paga é o povo.
Ah, pobre e infeliz herança será destinada às próximas gerações.
Por Hiroshi Uyeda