Um mundo à parte / Por Hiroshi Uyeda


Viajar é ótimo. Eita Brasil imenso, continental, com inúmeros encantos em cada canto e paraísos inexplorados em cada esquina. Estirar-se nas praias do Nordeste, extasiar-se em frente às Quedas do Iguaçu, registrar as pororocas na foz do Amazonas, degustar os excelentes vinhos de Bento Gonçalves, definir o sabor do pato no tucupi em Belém, visitar o Mercado Municipal ou a 25 de Março em São Paulo, ir ao Maracanã num dia de Fla-Flu e muitas coisas mais, existentes antes mesmo da década de 60.

Sim, tudo isso já existia e era uma tentação irresistível à vontade para os bela-vistenses de conhecê-los. Correspondia a uma aventura e tanto. Imagine sair de Bela Vista, em ônibus prá lá de ruins, tomar o trem Maria Fumaça, arriscar-se em andar nos bondinhos no Rio. Tentar se acostumar ao movimento de capitais como São Paulo, Porto Alegre ou Belo Horizonte. Multidão de pessoas como formigas sem rumo, barulho insuportável, variações climáticas inesperadas a cada hora. Suor, cansaço, correria, crianças chorando. Finalmente, alcançavam o destino.

Local amplo, apinhado de gente, barraquinhas vendendo lembrancinhas e guloseimas. Famílias com crianças; namoradinhos e recém-casados disputando lugares para o melhor close registrável em máquinas fotográficas dos lambe-lambes. Viravam cartões postais para comporem álbuns de recordações ou serem grudados nas geladeiras. Imensa escadaria desafia a vontade de conhecer a cidade lá de cima. Sobem. Esforço tremendo. Os dias se escoaram rapidamente. Em cada um novos desafios. Andar de escuna, sob o balanço de ondas, caminhar nas dunas até alcançar a delta do rio, percorrer trilhas, conhecer canyons e banhar-se em cachoeiras. Muitas estórias para contar.

O cansaço já se apoderou de todos e a saudade pela Princesa do Apa chegou mansamente, silenciosamente. As referências passaram a ser outras. Como estaria a Praia do Pompílio nesta tarde de domingo, a vaquejada na Cancha, o tereré, a chipa, a sopa paraguaia, as guaviras, a rede na sombra do frondoso abacateiro e o churrasco no fundo do quintal? Como estaria mamãe, papai, vovô, vovó, enfim, toda a família?
Enfrentar os meios de transporte para retornar tinha outro sabor. Ao se aproximarem de Bela Vista já sentiam no ar o cheirinho característico das imensas pradarias, do araticum do cerrado e da relva molhada pela chuvinha. Estavam voltando para o torrão natal, para o aconchego de seus lares, para os braços de seus familiares. Em Bela Vista serão – sabiam – festejados. Chegarão na hora do lanche, à tardinha. Mil perguntas invadirão os espaços, junto com o aroma do café forte. O que acharam? É bonito mesmo? Como é? Tiraram fotos?

Abrirão as malas, repletas de presentes. Ninguém foi esquecido. Lembrancinhas de lugares despertarão o desejo de viajar aos demais. Ao final, a inevitável pergunta:

– gostaram?

E os recém-chegados responderão:

– tudo foi bom, mas ótimo mesmo é estar aqui.

Fonte: Hiroshi Uyeda – O Tererá Jornal

Pular para o conteúdo